domingo, 29 de julho de 2018

MANOEL MARTINS VIEIRA


PRIMEIRO CHEFE DO EXECUTIVO DE SÃO DOMINGOS DO PRATA.
UM DOS MAIORES BENFEITORES DO MUNICÍPIO.

Em 1890, um ano após a instauração da República, uma comissão da qual Manoel Martins Vieira fez parte, dirigiu-se até Ouro Preto para reivindicar a criação do município de São Domingos do Prata, já então, desde o período imperial, a mais próspera Vila da região leste do Estado de Minas Gerais.
Em 1º de março de 1890, foi expedido o decreto criando o município, tendo Manoel Martins Vieira sido nomeado Presidente da Comissão de Intendência, tornando-se assim o primeiro chefe do Poder Executivo no município.
De plano, em abril de 1891, ainda como Presidente da Comissão de Intendência, Manoel Martins Vieira edita o Código de Posturas e Regimento Interno, diplomas legais avançados para a época, regulamentando o funcionamento da máquina administrativa e delimitando os direitos e deveres dos habitantes.
Os textos dos diplomas legais estão transcritos, na íntegra, no livro “São Domingos do Prata Subsídios Para a História”, páginas 90 a 133, de autoria do frei Thiago Santiago.
Na eleição realizada em setembro de 1891, a primeira no município, candidatou-se e foi eleito para vereador. Esta Câmara, como relatado em meu livro “Recontando a história de São Domingos do Prata”, renunciou em quase toda a sua totalidade (restou somente um vereador), incluindo o primeiro Agente do Executivo eleito pelo povo.
A partir daí ocupou diversos cargos de relevo, tanto no legislativo como no executivo. Sobre ele declarou Luiz Prisco de Braga em seu livro História de São Domingos do Prata: “Um vulto a quem o município muito deve. Político moderado. Exerceu cargos efetivos e de nomeação”.
Em face de sua forte liderança, foi ainda eleito presidente do Diretório Político Municipal, função na qual pode muito ajudar no progresso de sua terra natal.
Os seus contemporâneos, em reconhecimento à sua liderança e muito do realizado em favor da comunidade, homenagearam-no dando o seu nome à principal Praça da cidade, popularmente conhecida pelo povo como Praça da Matriz, posto nela se localizar a antiga matriz.

FALECIMENTO DE MANOEL MARTINS VIEIRA.
Depois de ficar prostrado ao leito tentando se recuperar de um mal que lhe acometeu, ele, prematuramente, veio a falecer às três horas da tarde do dia 26 de fevereiro de 1909.
O jornal “A Voz Prata”, ao anunciar a sua morte, em suprema síntese, disse:
“Político militante neste município, a cuja história está seu nome ligado desde os tempos da propaganda republicana. Era dotado de espírito altruísta e conciliador, muita vezes esquecendo-se de si, para amparar seus amigos e correligionários.”
O jornal “O Imparcial”, também deu grande destaque ao acontecimento relatando, em síntese:
“(........) Eram dez horas da manhã. Grande número de cavaleiros chegava à fazenda do Paiva, cujo aspecto era constrangedor. Na sala transformada em câmara ardente, estava o morto. As lágrimas confundiam-se. Dentro em pouco sairia o féretro a caminho da cidade. Ali chegando foi o féretro depositado em casa de Manoel Fernandes Barros genro do extinto. (Foi o primeiro esposo da sua filha Rita Martins Vieira).
O enterro foi marcado para 4 horas da tarde. Notamos grande número de amigos do morto e representantes de todas as classes sociais que acompanharam a saída fúnebre até a matriz (..........).
(....) Isso feito, seguiu o enterro para o cemitério do Rosário, onde falaram os srs. Ilídio Lima, Dr. Alonso Starling, padre Pedro Domingues e Egydio Lima, (capitão Dico)......”.
O seu passamento, em face da liderança exercida no município, liderança esta alicerçada nos inúmeros benefícios carreados à comunidade e ao trato sempre respeitoso aos seus habitantes, provocou verdadeira comoção.
Na oportunidade, uma comissão popular, representada por figuras ilustres da cidade, doou à Municipalidade, um retrato do falecido, que deveria ficar exposto no salão de reuniões da Câmara, que na época, funcionava no prédio antigo da Prefeitura.
         Do jornal “O Prateano”, extraí os seguintes trechos:
         “Imponente, magistrais, indescritíveis mesmo a solenidade de colocação do retrato do grande pratiano, Manoel Martins Vieira.
         A comissão popular representada pelos capitães Albano Ferreira de Moraes, Cornélio Coelho da Cunha, Alziro Carneiro e os Srs. Antônio Gomes Domingues e Manoel Nepomuceno, que adquiriu em Itália o retrato do ilustre extinto, ofertou-o à Municipalidade, em nome do povo. Cabia a esta o dever de colocá-lo, condignamente, no salão de suas reuniões. (...).
(....) As crianças das escolas públicas, acompanhadas das exmas. Professoras D. Maria Joaquina Pinto Coelho e Rita Martins Vieira (filha dele) estiveram presentes a toda a festividade recebendo assim uma proveitosa lição de civismo.
Durante a missa, a banda de música São Domingos, regida pelo maestro Linhares, executou diversas marchas.
Após a missa foi o retrato de Manoel Martins Vieira levado em triunfo ao som de maviosas marchas e ao estrepitar de fogos, da farmácia Lima (de propriedade de Joaquim Augusto Gomes Lima, casado com a filha do falecido, Nicolina Martins Vieira), para a casa da Câmara.
(........) Incorporados, os vereadores municipais receberam em frente à casa da Câmara.
Apesar de vasto, o Paço da Câmara não comportou a quinta parte da fina flor da sociedade pratiana que ali se achava presente.
Recentemente pintado, a mando do atual Presidente, o salão da Câmara apresentava um aspecto solene, digno do ato que ali se ia praticar, a glorificação do MAIOR FILHO DO PRATA.” (letra garrafal por minha conta).
Além da presença maciça do povo, compareceram as mais altas autoridades da cidade, inclusive o Juiz de Direito, Antônio Fernandes Pinto Coelho, que foi o orador oficial e Egydio Lima.
            Egídio Lima (Capitão Dico), falou em nome da Câmara Municipal, agradecendo a oferta preciosa que o povo fazia à Edilidade deste município, assegurando que os vereadores municipais terão como farol e guia, na estrada por onde deve trilhar este município, o espírito benfazejo e pacífico, do grande filho do Prata: Manoel Martins Vieira.
Outros oradores participaram, incluindo representantes dos distritos. No final, ecoaram estrepitosas salvas de palma, envoltas com os sons do hino nacional.
         Em síntese, disse o Juiz de Direito em seu discurso:
         ‘(....) à memória do povo pratiano vinha significar a sua imensa gratidão para com aquele que em vida foi o maior propagador do verdadeiro engrandecimento deste município que se orgulha de ter sido o berço natal de tão prestimoso filho, para com aquele que consagrou toda a sua vida, trabalhando e velando pelo bem estar do povo de que ele foi o anjo tutelar (......)’.
         Suas últimas palavras foram abafadas por prolongadas e estrepitosas salvas de palmas, envoltas com os sons patrióticos do hino nacional.”


         O PRÉDIO DA ANTIGA PREFEITURA.
Prédio da Prefeitura e antiga Praça Manoel Martins Vieira.
 O decreto nº 23, de 1º de março de 1890, que criou o município de São Domingos do Prata e elevou o povoado de Freguesia para Vila (somente em 3 de março de 1891, a Vila foi elevada a Cidade), dispunha:
       “A nova vila será instalada depois que os respectivos habitantes ofereçam e transfiram ao domínio do Estado os prédios precisos para cadeia, paço da intendência ou câmara municipal e escola de instrução primária para ambos os sexos.”

         Em cumprimento a determinação legal, foi construído o prédio da antiga prefeitura. Não consegui apurar se a obra foi construída por Manoel Martins Vieira ou Manoel Coelho Gomes Lima (conhecido por Manoel Coelho de Lima). Só sei que foi um dos dois.

         Quando de sua construção o imóvel passou a abrigar, até que se construísse o do novo fórum e cadeia, as dependências da Prefeitura (Paço Municipal), da Câmara de Vereadores, da cadeia pública, o fórum e o salão do Júri.

         Não sei precisar a data da construção do novo fórum e cadeia, embora tenha sido no período do mandato do Capitão Dico (Egídio Gomes da Silva Lima), que perdurou até 31.12.1922.

Fórum e cadeia pública
         Em meu livro “Revivendo a história de São Domingos do Prata”, consta, às páginas 124/127, que em 1912, o Capitão Dico já teria doado o terreno.

         Contudo, com certeza, até o final de 1918 tal não ocorreu, em face do artigo 1º da Lei estadual nº 721, de 30 de setembro de 1918, a seguir transcrito:

“Art. 1º - Fica o Presidente do Estado autorizado a doar à Câmara Municipal de São Domingos do Prata, assinando a respectiva escritura, a parte que o Estado possui na casa em que funcionam, atualmente, a Câmara Municipal, a cadeia e o tribunal do Júri, sita à praça ‘Manoel Martins’, esquina da rua padre Pedro, da mesma cidade, incluindo-se na doação um terreno de vinte palmos de frente, dividindo com dr. Alonso Starling, Antonio Coura, ribeirão Prata e a rua padre Pedro, por cujo terreno passa o esgoto da cadeia, ficando igualmente cedidas todas as servidões no dito terreno, avaliado em um conto de réis.”

O prédio da antiga prefeitura ficava na Rua XV de Novembro (atual Rua Capitão Albano de Morais), em frente à Praça Manoel Martins Vieira (atual Dr. José Mateus de Vasconcelos) e esquina da Rua 21 de Abril (atual Padre Pedro Domingues).


BAILES NO PRÉDIO DA ANTIGA PREFEITURA.
Em ocasiões especiais eram realizados bailes no Salão do Júri. A animação ficava por conta de sanfona, acordeão e violão.
Pelo menos até quando pesquisei, esses bailes perduraram até 1945, como se depreende da noticia a seguir:

           BAILE EM HOMENAGEM AO FARMACÊUTICO MANOEL MARTINS GOMES LIMA.

           O jornal “A Voz do Prata”, edição de 29 de abril de 1945, com o título acima em letras garrafais anunciava:

            “A sociedade pratiana homenageará na noite de hoje o ilustre Prefeito Municipal Farm. Manoel Martins Gomes Lima, oferecendo-lhe um suntuoso baile no salão nobre da Prefeitura, para o que fez distribuir o seguinte CONVITE:

            A Comissão organizadora tem a honra de convidar V. Exma. Família para o baile que será oferecido ao Exmo. Snr. Manoel Martins Gomes Lima, D. D. Prefeito Municipal, no salão da prefeitura no próximo dia 29.

             São Domingos do Prata, 27 – 4 – 945.
                            A COMISSÃO”.

            Em 13 de maio do mesmo ano, o periódico acima mencionado, destacava:

        “Constituiu grande acontecimento social o baile que domingo passado a sociedade pratiana ofereceu ao Prefeito Manoel Martins Gomes Lima. Saudando-o interpretou o sentimento dos presentes o Sr. Francisco de Paula Carneiro de Moraes (Chiquito de Moraes), tendo S.S. agradecido.”


    ALGUNS DADOS FAMILIARES DE MANOEL MARTINS VIEIRA.
Manoel Martins Vieira nasceu em São Domingos do Prata em 08 de outubro de 1854 e faleceu em 26 de fevereiro de 1909. Sua esposa Albina Marques Vieira (ou Vieira Marques), nasceu em Barão de Cocais em 1860, vindo a falecer em São Domingos do Prata, em 20 de novembro de 1947.

Manoel Martins Vieira nasceu na fazenda dos “Martins”, hoje situada no município de Goiabal. Depois de casar-se com Albina Marques Vieira fundou a fazenda “Cachoeira”, no mesmo terreno da fazenda dos “Martins”, onde foi morar com a sua esposa.

O seu sogro era José Vieira Marques (casado com Rita Maria de Jesus) e foi o fundador e proprietário da famosa fazenda do Paiva, existente até os dias de hoje.

Falecendo o seu sogro, foi morar com a sua esposa na fazenda do Paiva, tornando-se proprietário da mesma. Ali morou e nasceu e criou os seus treze filhos.

         Os pais de Manoel Martins Vieira foram José Martins Vieira e Emerenciana Martins de Jesus. Os restos mortais de Manoel Martins Vieira e de sua esposa estão sepultados no cemitério de igreja do Rosário em São Domingos do Prata.

SEUS FILHOS, GENROS E NORAS FORAM:
Nicolina Martins Vieira (Cota – Foi casada com o farmacêutico Joaquim Augusto Gomes Lima), Maria Carolina Martins Vieira (casada com Duval Mendes), Rita Martins Vieira (Quando viuvou casou-se com o também viúvo Coronel Manoel Olympio Magalhães), Carmem Martins Vieira (Carmita), que se casou com José Raimundo Moreira e foi residir em Barão de Cocais, onde criou família e raiz. Maria Martins Vieira (casou com Clóvis Ferreira Mendes, irmão de Duval Mendes), Maria José Martins Vieira (Zita era irmã gêmea de Rita Martins Vieira), casou com Pedro Vieira Marques, Ciro Martins Vieira, José Vieira Lima, Artur Martins Vieira, casou com Alice Mendes, irmã de Duval Mendes e filha de Francisco Ferreira Mendes, João Martins Vieira (Dão), Virgolina Martins Vieira, que se casou com João Gomes de Figueiredo Júnior, Maria José Martins Vieira, Mário Martins Vieira, Manoel Martins Vieira.
Um de seus filhos tinha o apelido de TANÉ (não consegui apurar o seu nome). Ele foi casado com Constância Mendes, também da família Mendes.
 SEUS IRMÃOS:
Joaquim Martins Vieira, José Martins Vieira, Antônio Martins Vieira, Quintiliano Gomes Martins Vieira, Anna Jacinta Martins Vieira, Emília Martins Vieira e Carolina Martins Vieira.
 SEUS CUNHADOS:
Maria Rita Vieira, Narciza Vieira Marques, Maria Clara de Araujo, Maria Joana Domingues, Leandro Gomes Domingues, José Cornélio Silva Perdigão, João Manoel Domingues, Alenir Magalhães Vieira e Cipriano Vieira Marques.
Deixou milhares de descendentes espalhados pelo país, dezenas deles ainda residentes em São Domingos do Prata e outro tanto na região leste do Estado e em Belo Horizonte.

NOTA: Os fragmentos acima foram extraídos de diversos de meus livros sobre São Domingos do Prata antigo, cuja relação publico a seguir:

*Edelberto Augusto Gomes Lima.  

– Advogado aposentado, membro do Conselho Editorial da Editora Del Rey, ex-coordenador do Departamento Jurídico da Associação Comercial e Empresarial de Minas e da Federaminas (Federação das associações comerciais do Estado de Minas Gerais) e autor dos seguintes livros:      
1 - “São Domingos do Prata: Berço e Origem”. (1ª, 2ª e 3ª edição).
2- “Revivendo a história de São Domingos do Prata”.
3 - “São Domingos do Prata: Fragmentos de sua história”.
4- “Recontando a história de São Domingos do Prata”

5- “Dr. Gomes Lima. Um dos grandes vultos da história de São Domingos do Prata”.

6- “Notas biográficas de Manoel Martins Gomes Lima, Janua Coeli de Lellis Ferreira e Dr. Edelberto de Lellis Ferreira - Três pratianos da gema”.

7- “Quatro prefeitos de São Domingos do Prata da primeira metade do século XX”.

8- “Notas sobre alguns prefeitos e eleições em São Domingos do Prata de 1890 a 1947”.

9 – “São Domingos do Prata no período imperial.”

10- Livro digital “São Domingos do Prata: Centro irradiador de mineiridade”, contendo os livros de n.º  1 – 2 – 4 – 5 – 6 e 8 acima.

11. “Genealogia de alguns ascendentes e descendentes, todos com raízes fincadas em São Domingos do Prata ...........”.

12 – “Seleção de notícias sobre São Domingos do Prata antigo.”

13 -“Sabará na imprensa do império”.

14 – “Sabará: Fragmentos de sua história no período imperial”.


NOTA: Alguns dos livros acima, inclusive os sobre Sabará, poderão ser encontrados, entre outras, no acervo da biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, nas bibliotecas da Faculdade de Sabará, na municipal de Sabará e na de três Colégios de São Domingos do Prata, além da Casa de Cultura Chiquito de Morais.

3 comentários:

  1. Parabens Edelberto, pelo grande trabalho de pesquisa e por trazer a nós a história do nosso município!!

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  2. Parabéns primo! Muito bom ler sobre nosso bisavô, Manoel Martins Vieira. 1° prefeito do Prata. Obrigada.

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  3. Ana Maria Mendes de Morais

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