Meus primeiros esforços de organizar documentos históricos de forma digital
foram realizados em 1995, na ocasião da criação do Arquivo Histórico Nacional
da Fundação Logosófica do Brasil. Ali começou a transformação de minha vocação em conhecimentos e habilidades para o registro da história. Mas, naqueles idos anos, os recursos dos computadores ainda eram
muito limitados em especial a capacidade de tratar e armazenar imagens. A digitalização
era muito lenta e os dispositivos não comportavam grandes volumes de dados.
Naqueles anos e nos seguintes, não existindo tantos recursos e facilidades como nos dias atuais, eu levava comigo um computador portátil (notebook), e um digitalizador (Scanner) e com estes equipamentos pude recolher milhares de
fotos e centenas de documentos. Era uma inovação que me permitia ir recolhendo as fotos e documentos, já que tomar
tantas fotos emprestadas para copiar ou esperar que as pessoas me enviassem
copias pelo correio não era realizável. Todos nós somos apegados aos nossos documentos
antigos, em especial com as fotografias. Nesta época somente com as famílias de Dionísio reuni mais de 2500 fotos, o que era um volume expressivo.
Daquela época aos dias atuais os recursos evoluíram extraordinariamente e praticamente
não temos mais as limitações de volume de armazenamento de imagens do passado
recente. Podemos, além de armazenar grandes volumes de informações, realizar
buscas de documentos de forma quase instantânea em nossos computadores e mesmo
à distância com extrema facilidade e rapidez utilizando a internet onde
encontramos ilimitados tipos e números de sites. Estes recursos permitem ampliar
a base de amostragem estatística das buscas, o que é de suma importância para gerar
resultados mais qualificados, mais confiáveis e próximos da verdade objetivada.
Em 1998 eu carregava duas maletas, uma com computador e outra com o Scanner; hoje posso usar somente um telefone celular com os recursos necessários
à documentação: fotografia, gravação de som e imagem, e aplicativo de digitalização.
Hoje cada
um de nós registra a própria história com centenas, milhares de fotografias e vídeos.
Os equipamentos fotográficos e de filmagem cada vez mais populares, possibilitam
os registros dos documentos com mais qualidade e agilidade. O estado, as grandes
empresas e as redes globalizadas reúnem cada vez mais informações sobre nossas
vidas; os sistemas integram e cruzam informações com velocidades jamais
pensadas a alguns anos atrás. A história já está sendo registrada de outra forma e o
volume da documentação da vida nos dias atuais é inimaginável, é
incomensurável.
Como
devemos nos adequar a toda esta documentação gerada pelas tecnologias atuais?
Que
cuidados devemos ter no tratamento desta imensa produção de documentos?
O que
caracteriza um documento como histórico? Como qualificar um documento
histórico?
Como
assegurar a verdade e a confiabilidade da documentação histórica?
São questões sobre
as quais precisamos pensar, sendo que algumas são novas como as que referem aos
grandes volumes de documentos gerados, e outras nasceram com a própria história
e existirão sempre. Eternamente existirão os questionamentos sobre a
qualidade das versões da história e a necessidade de garantir a confiabilidade
e verdade à mesma.
Já na fundação do Instituto Histórico e Geográfico de MG, na reunião
fundacional em 15 de agosto de 1907, Dr. Diogo
Vasconcelos, o orador oficial daquele memorável dia manifestou sua preocupação
com a qualidade e confiabilidade da documentação da história.
Disse
ele que a história não é apenas uma ciência das humanidades, mas sim “a mais humana dentre elas. Ela
(a história) deve ser fiel, verdadeira e severa e tem que ser escrita como ela
realmente é....” e complementou
ainda que além de fiel e verdadeira a história tem de ser escrita “...com um vasto levantamento documental,
que carregue a verdade”.
Diogo Vasconcelos, a 108 anos atrás compreendia com
clareza três aspectos fundamentais para a qualificação dos documentos
históricos: a influência do
relator ou historiador no fato relatado, a fidelidade, a verdade do documento e
o volume de documentos para conferir segurança ao fato ou relato. (Visões humana, de qualidade e de amostragem estatística)
González Pecotche nos
adverte:
“É sabido que a História
para ser verídica, deve estar legitimada por testemunhos indiscutíveis; por
verdades que concordem com nossa realidade interna, que é a que deve alentar o
juízo dos homens. Daí (da realidade interna) deve surgir a aceitação ou a não
aceitação das passagens históricas. Os fatos históricos somente podem ser
considerados incontestáveis, quando estão sustentados por realidades que livrem
a posteridade de toda suspeita acerca da fidelidade de sua origem”.
Investigando
um documento histórico quanto à sua forma física de apresentação na
maioria dos casos através de métodos científicos poderemos atestar a sua originalidade,
e sua verdade se torna inquestionável. Isto é feito para todos tipos de
documentos históricos: monumentos e edificações, fosseis, fotos, pinturas e
desenhos, utensílios, ferramentas e armas antigas, vestuário e, adornos, selos,
medalhas e moedas, pergaminhos, cartas, atas, registros cartoriais, decretos, livros,
etc.
Mas,
quando investigamos um documento histórico quanto ao conteúdo, grafado
com símbolos ou palavras escritas ou mais recentemente com sons e imagens, encontramos
a influência do ser humano na história, encontramos a
mais humana dentre as ciências humanas. O
conteúdo de qualquer documento registra sempre o pensar e sentir de seu autor com
suas infinitas variações que tem origem nos diferentes níveis de conhecimentos,
tipos psicológicos, modalidades e caráter.
Quando o historiador
produziu seu documento estava sob quais influencias e quais interesses?
Atendia a
interesses de correntes religiosas, ou ideais políticos, ou econômicos. Estava
envolvido com fortes sentimentos ou paixões.... Ou, mesmo sofrendo pressões,
ameaças..., ou estava sendo remunerado para contar uma história encomendada? Cada
um relata o que naquele momento de sua vida “acredita” ser a sua verdade, e
que, circunstancialmente esta verdade pode ser alterada pelas necessidades e interesses
pessoais e contextuais.
A Logosofia assim
define a autoridade do historiador:
“A autoridade do historiador se
constitui, ..., mediante a revivência objetiva, subjetiva e concreta do fato, ou seja, fazendo os demais conhecerem o fato por meio da razão e através das
consequências do mesmo, e mais ainda, fazendo possível reviver a imagem da
história com pessoas, ou com elementos ou coisas. É este o selo da legitimidade
do documento”.
“A autoridade do historiador
surge da evidencia com que demonstra um fato histórico e capacita ao que escuta
para que possa contemplar uma imagem real, com as suas próprias condições ou meios”.
Os
relatos históricos carregam as realidades individuais que podem conter fragmentos
de verdades, ou meias verdades ou mesmo mentiras frente a verdade absoluta da Mente
Universal, frente a Inteligência Suprema do Criador e as suas leis que regem a Criação. Aprendi também na Logosofia que a verdade absoluta sobre qualquer obra criada pertence à mente do agente criador. O
que concebe e realiza detém a verdade sobre sua criação.
A
documentação da história deve ser verdadeira e volumosa, registrando com
fidelidade o fato para permitir que o investigador pesquise em múltiplos
documentos as várias posições mentais e sensíveis de historiadores diferentes.
Analisando uma amostragem com diversas visões e percepções se poderá extrair os
fragmentos de verdade de cada documento e uni-los validando seus conteúdos para
alcançar e consolidar uma proximidade maior com a verdade.
A principal
meta é fazer com que documentação da história vá se afastando do “Era uma
vez...” e do empirismo e vá evoluindo no atendimento às características que
asseguram a confiabilidade como resultado da qualificação atestada por métodos
científicos.
Cento e
oito anos após o chamamento de Vasconcelos na ocasião da fundação deste IHGMG, temos
as possibilidades e potencialidades disponibilizadas pelas tecnologias em todos
os ramos das ciências e este desafio de ter documentos que carreguem a
verdade pode ser resolvido. Na atualidade a
história já está sendo contada de forma diferente, de forma a não deixar para o
futuro nenhuma dúvida de como vivemos hoje; o que fazemos, porque, para que, quem
somos e até o que pensamos e sentimos.
Com as
tecnologias atuais cada um de nós já está registrando a própria história e
produzindo um enorme volume de fotografias e filmes. De forma similar isto
também está sendo feito pelas empresas, comunidades, cidades, estado, etc. Os recursos do gerenciamento eletrônico de
documentos permitem manusear este volumoso acervo documental, realizando a
validação, a classificação, seleção, preservação e disponibilização a
interessados em todo mundo. Já podemos ter uma documentação volumosa,
inquestionavelmente verdadeira e confiável como já aspirava Diogo Vasconcelos.
Agora devemos
nos preparar e nos adequar aos novos recursos já disponíveis e já temos exemplos
de destacadas e consagradas instituições guardiãs de parte da história da
humanidade que já disponibilizam seus acervos para nossas pesquisas na
Internet. Podemos visitar virtualmente e pesquisar os acervos de centenas de museus,
bibliotecas, órgãos de imprensa, universidades, institutos, governos, etc.
Mas esta
é só uma das facilidades dos novos tempos. Brevemente cada um de nós estará
usando a grande rede globalizada para fazer envios e armazenamentos de
documentos para os arquivos de instituições que preservam a história. Qualquer cidadão
conectado poderá depositar seus documentos e histórias para preserva-los.
Estamos iniciando uma nova era na história da história, que já não mais admite duvidas,
tergiversações e mentiras. Temos que direcionar esforços para a evolução da qualidade
da documentação histórica objetivando a sua mais importante característica
de qualidade, a confiabilidade. Na história já não cabem mais figuras lendárias, mitológicas,
milagrosas; muito menos cabem os falsos ídolos, os falsos lideres, ou os super-heróis
fantasiosos e mentirosos.
Esta é a
nossa atual responsabilidade frente ao futuro, responsabilidade que Diogo
Vasconcelos, considerado por muitos como o Heródoto mineiro, já aspirava desde
a fundação do IHGMG em 1907.
A qualidade da documentação da história será determinante para evitar
que falsos líderes e falsos ídolos sejam transformados em mitos como tem
acontecido ao longo de séculos. Que cada homem possa ser avaliado no futuro
pelas obras de bem que produziu para sua geração e para as gerações futuras.
O tempo é o maior amigo da verdade e seu principal aliado.
Nenhuma mentira resiste à ação do tempo.
Nenhuma mentira resiste à ação do tempo.
“A humanidade não pode viver de
lendas.
A história não pode ser uma construção apócrifa”.
Da
Logosofia
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