terça-feira, 13 de setembro de 2016

FAMÍLIA SOUZA REIS - NONÔ DE OVÍDIO

José Augusto de Souza Reis
Hipocorístico: Nonô de Ovídio

Filiação.
Nasceu do primeiro matrimônio de Ovídio de Souza Reis com Emília Augusta de Souza, proprietários da Fazenda Pereira e de parte da área denominada Roça Grande, próxima à primeira. Aconteceu um segundo matrimônio do vovô Ovídio, desta feita, com Elzira Ribeiro.

Data e local do nascimento.
Em 31-3-1901, no local supracitado, pertencente ao distrito de Dionísio, município de São Domingos do Prata, estado de Minas Gerais.

Irmãos (todos falecidos): Maria “Pequetita”; Emília “Emilinha”, casada com Juquinha de Soié da Brejaúba; Juvenil,  contador, casado com Maria Amélia “Mariinha” (ambos foram  funcionários do DETRAN/MG); Adail, ex-prefeito de Dionísio, casado com Nair Garcia, -- professora  em Dionísio e em Belo Horizonte, e que lhe sobrevive, atualmente com  96 anos de idade; Berenice, professora por muitos anos no Grupo Escolar Dr. Gomes Lima, de Dionísio; Walter, que foi farmacêutico prático em Florália, Barão de Cocais  e Belo Horizonte, era casado com Nair Campelo; irmãos de Nono de Ovídio, fruto do segundo matrimônio de seu pai: Edil, Lideí, Maria da Glória, Sílvio, Jairo, Ivani e Josefino, sendo  já falecidos Sílvio e os dois últimos.

Escolaridade e atividades exercidas por Nonô de Ovídio.
Cursou o primário em Dionísio e, ainda adolescente, rumou-se para São José da Lagoa (Nova Era), objetivando aprender a profissão de farmacêutico, tendo como instrutor o profissional da área, competente e talentoso, farmacêutico Sr. Antônio Caetano. De posse dos conhecimentos necessários, exerceu-os em Dionísio, onde montou uma bem sortida farmácia, composta de medicamentos já preparados, além de variado estoque de sais, destinados ao aviamento de receitas prescritas por médicos. 

Casamento e filhos.
Casou-se em 30-11-1926 com Geralda (Dona Dica), filha de João Antônio de Araújo (Janjão dos Pilatos) e Cornélia Fernandes de Castro, dedicando-lhe imensurável amor e companheirismo incondicional por toda sua vida.  Ainda em Dionísio, nascera-lhes a filha Éder; um ano depois, mudou-se para Babilônia (hoje Marliéria), dando continuidade, ali, à profissão abraçada. 



Retornou definitivamente para Dionísio por volta de 1935, acompanhando-o a esposa e os filhos Eder, José (Juquita) e Joffre, os últimos, nascidos em Marliéria. 


Sequencialmente nasceram em  Dionísio os demais filhos:  Jurandir, Jackson, Maria Aparecida, Emília, Jader, Janir e Wilson, num total de dez, sendo que precedeu à Eder, por poucos dias, uma primogênita que não logrou sobreviver, além de outra natimorta. 



Éder tornou-se freira da Congregação das Irmãs Religiosas de Nossa Senhora das Dores; Juquita é casado com Vera Lúcia Vieira; Joffre, falecido prematuramente em 26-8-2005, deixou viúva Sônia; Jurandir tem como consorte Zélia Lana; Jackson é casado com Vanda Pereira; Maria Aparecida (ex-professora em Dionísio e nesta capital) ,continua solteira; Emília é esposa de Sezino Vieira; Jader casou-se com Maria das Graças (Gracinha); Janir, com Mirian Américo; e Wilson com Gildete.




Juquita e Vera Lúcia, há 59 anos, por ocasião do casamento ocorrido em vinte e sete de julho de 1957

Casa em que residia em Dionísio




Dica, na labuta doméstica diária, em Belo Horizonte


Raros momentos de lazer, na Pousada do Rio Quente (Go); apenas 3 meses após, Nonô de Ovídio era chamado por Deus, deixando-nos saudosos neste mundo..

Juvenil, Mariinha, Dica e Nonô de Ovídio, na Pousada do Rio Quente (GO)

Pousada do Rio Quente, Juquita, Dica, Nonô e Mariinha
*********************

Empreendimentos.
Empreendedor nato, não se restringiu  apenas à novel atividade, que já praticava com muita eficiência e ótimo conceito, realizando muitas vezes procedimentos de competência médica, por não existir no local profissional da espécie. Eram de sua lavra eficientes e responsáveis fórmulas de medicamentos destinados à cura dos males mais comuns na região, v.g. malária, coqueluche, gripe, e outros.

Foi, por longo tempo, membro do corpo de jurados  do Tribunal do Júri da comarca de São Domingos do Prata.

No campo empresarial, em todos os empreendimentos nota-se presente a figura de Nonô de Ovídio, enriquecendo-os com o seu brilhantismo intelectual e patriótico, de colaboração eficiente e idéias progressistas. Não todas, porém ,algumas mister  se torna mencionar, após viajar pelos desvãos da memória do Juquita, a saber:

  • Iluminação elétrica: adquiriu participação societária da Cia. Força e Luz de Dionísio e, ato contínuo, providenciou uma captação maior de volume d’água destinado ao melhor aproveitamento da turbina; para isso, melhorou a caixa competente para conduzir até à usina  uma quantidade maior,  desviada do Mombaça.
  • Farmácia – Como colaboradores na farmácia, contou, inicialmente, com o concurso de José Maria, que veio a falecer de tuberculose. Egresso da mesma escola do excelente farmacêutico Antônio Caetano, de Nova Era, passou Nonô de Ovídio a obter a valiosa colaboração do Zé de Vino, cercado de ótimas referências oferecidas pelo mestre dos dois. Essa convivência reinou por muitos anos, a ponto de o Zé de Vino, aliado com o seu pai Etelvino Drumond, demonstrarem  interesse em adquirir do Sr. Nonô o seu acervo farmacológico, e desde que pudessem contar com a prescrição de receitas por parte do alienante, para aviamento na farmácia a ser negociada. Assim, balanceou-se o estoque de medicamentos remanescentes, estipulou-se o honorário de R$ 2,50 nos valores da época por receita gerada pelo Sr. Nonô, e concretizaram a negociação.
  • Extração de minerais: criou muitos empregos locais para:  a) preparar mica para exportação para o exterior, via Figueira (Governador Valadares) e Rio de Janeiro; aquele mineral, extraído de jazidas existentes no distrito de Babilônia e Sem Peixe – cujas concessões obtivera junto aos órgãos competentes –, era conduzido até Dionísio em lâminas de forma bruta até ao imóvel alugado no distrito (primeira casa à direita, após a ponte do córrego que vem dos Tocos para desaguar no Mombaça); equipadas com protetores de tabuletas  pendurados ao pescoço, e utilizando facas de sapateiro, filhas de Juca Martins e Pedro Lourenço Godoi, dentre outras moças, davam nova aparência e formato ao material, descartando-lhe a ganga, sob a supervisão do Sr. Manoel, um português especializado no mister, trazido por Nonô de Ovídio para  morar com a esposa naquela casa; b) cristais: retirados em jazida requerida no lugar denominado Mundo Novo, também pertencente a Babilônia, eram submetidos a limpeza mais acentuada, antes de serem encaminhados ao Rio de Janeiro; c) feldspato:reduzidos a areia, e de cores variadas (verdes, amarelados, etc.) destinavam-se também, em menor quantidade, ao mercado do Rio de Janeiro. Operários para todas as atividades descritas eram recrutados em Dionísio. Com a exaustão das pequenas lavras dos minerais que explorava, esgotou-se, ipso facto, a sua atividade naquela área
  • Suínos e cereais: Construindo enorme e bem aparelhada ceva nos terrenos onde possuiu também sua casa residencial, Nonô de Ovídio, valendo-se de laboriosos empregados, comprava nas cercanias e também em lugares distantes (Goiabal, Timóteo, Calado ‘Cel.Fabriciano’, etc.) suínos magros de toda idade, que eram conduzidos por terra até Dionísio. Refeitos das caminhadas, eram castrados e confinados na ceva, para receberem alimentação destinada à engorda. Quando erados (pesando já de 14 a até 19 arrobas, de acordo com o porte), eram abatidos de modo empírico, desossados, salgados com sal grosso (não existia ainda o refinado); carne e toucinho eram, em lombo de burros, transportados para Saúde (Dom Silvério), de onde, por via férrea, alcançavam outros mercados consumidores. Cereais: Os paióis que Nonô de Ovídio edificou em prédio  atrás da sua residência comportavam um estoque de milho em espigas equivalente ao volume  transportado por  uns 10 carros de bois. Resultado de produção própria (cultivava ainda em terrenos do Sr. Totó Vieira) e adquiridos de outros agricultores, era então processado por mulheres e moças da rua dos Tocos, que  descascavam as espigas, debulhavam-nas  em debulhadores manuais e ensacavam o milho a granel em volumes de 60Kg. O destino eram também armazéns da Saúde (Dom Silvério), aonde o produto chegava por lombo de burros, com escalas intermediárias na Esperança, São Domingos do Prata e Ilhéus.
  • Fazendas: Em oportunidades distintas, adquiriu a do Córrego de Chapéu, com área de 64 alqueires geométricos (de 4,84ha cada um) e a do Retiro, confinante com a primeira, de área menor. Preservando a mata atlântica ainda existente, promoveu o saneamento adequado, transformando brejeiros e pântanos em terras agricultáveis, próprias para sobretudo o cultivo de arroz, com ótima produtividade. Chegou a dispor de até 10 agregados, cada qual morando em casa construída pelo patrão. Esses cultivavam cereais em parceria com o proprietário e lhe prestavam serviços atinentes às lides rurais.
  •  Serraria: Adquiriu no início da década de 1930 um engenho de serra, movido por água captada por Totó Vieira nas fraldas das serras do Apaga Pito, assentado em espaço situado logo após o Sr. Totó utilizar  aquela água nas suas necessidades de movimentar moinho de fubá e moendas para produção de garapa de cana de açúcar destinada à feitura de rapadura e aguardente. Para atender a demanda sempre crescente, substituiu aquele empírico engenho de serra por uma que poderia ser chamada de serraria, comprada ao Padre Braz, e que se achava desativada no município de Ilhéus do Prata. Em eixos rotatórios introduziu polias com correias a outros segmentos, obtendo força necessária à movimentação de máquinas de beneficiamento de arroz e café em casca, alternadamente. Não existindo luz elétrica no local, a iluminação noturna era obtida com o emprego de lampiões de carbureto. Autodidata que era em várias atividades, como se disse anteriormente,  partiu Nonô de Ovídio para  materialização de um sonho que acalentava, pois era seu desejo construir uma serraria que contivesse também carpintaria e  marcenaria, o que lhe possibilitaria vender o produto acabado. Com o auxílio do filho,  Juquita, valeu-se de método centenário obtido em leituras especializadas. Assim, a  partir das correntezas do ribeirão Mombaça observadas a jusante da usina de geração de luz, e até um ponto aleatório situado já em  terrenos de propriedade do Sr. Pedro Lourenço, apurou o desnível existente. Utilizou  uma garrafa cheia parcialmente de água, um relógio e trena de 50 metros. Anotou o tempo despendido em cada um dos centenas de percursos preestalecidos. Somados esses dois elementos, mentalizou o ponto em que  seria viável a construção de uma turbina horizontal, com a queda d’água então apurada, bem como a respectiva potência provável. Passo seguinte, adquiriu o terreno em que instalaria a turbina e edificaria os galpões necessários à implementação do complexo. Seguidamente, construiu uma barragem de pedra, ferro e cimento no leito do ribeirão situado acima dos bambuais fronteiriços à propriedade do Sr. Raimundo Estêvão. Cavou um leito em terreno pedregoso e/ou alto, paralelo ao Mombaça, que comportasse o volume d’água que se fazia necessário. Abriu um buraco destinado à fixação da turbina, estabeleceu a dimensão do volume d’água suficiente para promover a pressão necessária ao acionamento da turbina Pélton. Teste feito e aprovado, construiu-se uma ramificação de eixos, roldanas, correias, etc., pelos galpões. Instalaram-se: serra primária com várias folhas, desengrosso, serra circular, tupia, plaina, e outras máquinas necessárias à complementação de uma serraria, carpintaria e marcenaria. Materiais acabados produzidos  eram transportados em caminhão próprio,  identificado  com a marca Serraria e Carpintaria São José-Dionísio, mostrando para rincões os mais variados (S.D. Prata, Nova Era, Itabira, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Belo Horizonte) a origem da carga e a existência de uma cidade chamada Dionísio.  Ressalte-se que engenheiros que visitaram os trabalhos de construção da Serraria São José expenderam largos elogios à capacidade do Sr. Nonô de Ovídio. Já com sua saúde debilitada, requerendo sua mudança para melhor assistência em Belo Horizonte (com os filhos ausentes), alienou com pesar a sua fazenda e pôs à venda também a serraria. Surgindo como interessados na compra dessa o Sr. José dos Passos e um amigo seu que era oficial da Marinha Brasileira, efetivaram a transação, em que a entrada correspondeu aos valores estipulados para um veículo Citroen/1948 e outro da marca Peugeot/1951, conversível, encerrando, desta feita, suas atividades em Dionísio.
**********************

Após uma vida plena de realizações profícuas, de proporcionar aos filhos uma educação exemplar nas melhores instituições de ensino-- ao ponto de vê-los prósperos e ótimos pais de família--, faleceu o Sr.Nonô de Ovídio aos 26 de agosto de 1984, em Belo Horizonte, sobrevivendo-lhe Dona Dica, a quem amou com todo afeto e ternura.  

Como a natureza não admite a qualquer ser vivo a eternidade, em 5 de março de 1999 Dona Dica também encerrou nesta terra seu ciclo de vida, juntando-se alhures à alma do seu extremoso companheiro e, em jazigo no cemitério do Bonfim-Belo Horizonte, uniu novamente seus  restos mortais aos do seu inseparável marido.

Por Juquita de Sousa Reis em Setembro de 2016

***************

Em Dionísio, aproximadamente 1923 ou 1924.

Nonô de Ovídio e Perkins de Paula Machado (Irmão de Peráclito Americano)


Um comentário:

  1. Existe algum livro que conta história desta família?. Tenho interesse em livros de família em Minas. Parabéns pela página!...

    ResponderExcluir